A Gênese de Reinações de Narizinho
-
Magno Silveira
Lançado em 1920 como "o melhor presente de Natal para crianças: – Livro de figuras no formato grande, com sessenta estampas a quatro cores, desenhadas por Voltolino", conforme anúncios em jornais da época. O álbum dá início à saga de Narizinho e outros personagens do Sítio do Picapau Amarelo. São 44 páginas onde Voltolino traçou imagens num estilo de influência art-nouveau.
“ A MENINA DO NARIZINHO ARREBITADO - 1920”
-
Magno Silveira
Um mês após A menina do narizinho arrebitado, em janeiro de 1921, Monteiro Lobato lança Narizinho Arrebitado, uma versão ampliada com novas aventuras e personagens, como o guloso Rabicó. Como fora projetado para ser uma edição escolar, o tamanho é pequeno e o papel, de qualidade inferior para baratear o custo. São 182 páginas repletas das ilustrações de Voltolino, em preto e branco. Lobato mandou imprimir 50.500 exemplares, uma tiragem espetacular ainda hoje. Distribuiu 500 exemplares gratuitamente nas escolas e foi sucesso. Então, o governo do estado comprou 30.000 livros para distribuir em todas as séries. Um grande alívio para o escritor, a estratégia dos exemplares gratuitos funcionara.
“NARIZINHO ARREBITADO - 1921”
-
Magno Silveira
Em o Marquês de Rabicó, Lobato conta a história do leitão Rabicó – do "berço", passando pelo casamento, ao jantar de Ano Bom, quando o porco participa mortinho sobre a mesa, ovo cozido na boca e rodelas de limão pelo corpo (Emília "deu gritinhos de alegria e bateu palmas, cantando o Pirolito") . Antes da "morte", o glutão fora alçado à condição de marquês, filho de ninguém menos que... o Visconde de Sabugosa, que estréia em grande estilo. Voltolino foi encarregado mais uma vez das ilustrações, impressas a três cores. Sobre a "morte" de Rabicó, melhor deixar o suspense para não ser spoiler...
“O MARQUÊS DE RABICÓ - 1922”
-
Magno Silveira
O Príncipe Escamado caiu em profunda tristeza, emagreceu. "Suas escamas foram ficando fininhas como papel de seda". Assim começa O noivado de Narizinho, outro livrinho que dá continuidade à saga do Picapau Amarelo. Há o pedido de casamento que o Príncipe coloca dentro de uma "linda concha de madrepérola". Os lambaris serão encarregados da entrega. Dona Aranha faz um vestido maravilhoso para a noiva Narizinho e Rabicó continua aprontando lambanças e come a coroa do Príncipe! Bem, a "jóia" era um presente que Narizinho dera a Escamado: uma rosquinha!
“O NOIVADO DE NARIZINHO - 1928”
-
Magno Silveira
Em Aventuras do Príncipe, publicado em 1928, a grande novidade é a chegada de um certo gato no Sítio, não sem algum mistério. Apresenta-se como o Gato Félix e diz ser escudeiro do Príncipe Escamado. Traz notícia da corte: o Príncipe mandara dizer a Narizinho, "sua querida esposa", que fará uma visita ao Sítio. E não irá só. Com ele estarão o doutor Caramujo, dona Aranha... "vêm todos." De fato, o Príncipe chegará com toda a comitiva real, mas o livro termina num tremendo suspense: sua majestade, ao voltar para o Reino, se afoga (!!!)... Alguém precisará salvá-lo, este é o "gancho" para o próximo livrinho, publicado no mesmo ano.
“AVENTURAS DO PRÍNCIPE - 1928”
-
Magno Silveira
O livro começa com Narizinho salvando o Príncipe do afogamento. Em O Gato Félix o felino assume o protagonismo ao contar sua história, sempre sob o olhar desconfiado do Visconde de Sabugosa. Desde a chegada do bichano, pintinhos começaram a desaparecer do galinheiro. Nastácia é quem dá conta dos sumiços. E será ela quem expulsará a vassouradas o falso astro, após o Visconde desmacará-lo através de uma investigação minuciosa.
“O GATO FÉLIX - 1928”
-
Magno Silveira
Em A cara de coruja, publicado também em 1928, os personagens dos contos de fadas chegam ao Picapau. Lobato incluiu o nosso brasileiríssimo Pedro Malazarte entre eles.
Ao partirem, os visitantes esqueceram para trás a lâmpada de Aladino, a varinha de condão da Gata Borralheira, as botas de sete léguas do Pequeno Polegar. Dona Carochinha surge para rasgatar os objetos. "Foi um desapontamento geral", mas as crianças devolvem as maravilhas. Quando Carochinha ia embora, Emília não se conteve e gritou: – Cara de Coruja! "A Carochinha olhou pra traz e a boneca botou-lhe uma língua tão comprida que a velha tratou de apressar o passo, de medo..."
“A CARA DE CORUJA - 1928”
-
Magno Silveira
Dona Benta começa a contar para a turma a história de Pinocchio. Os meninos ficam empolgados e, em troca do cavalinho de pau sem rabo de Pedrinho, Emília dá a ideia de se fazer um "irmão do Pinocchio". A boneca, para convencer Pedrinho, diz que deve haver algum resto daquela madeira falante com que foi feito Pinocchio. Mas, na verdade, a danada tinha um plano para engabelar o menino e, para isto, precisaria contar com o Visconde. O sábio, sempre submisso a Emília, aceita fazer parte do engodo. Com a madeira "falante" que Pedrinho encontrara, Tia Nastácia fará o irmão de Pinocchio, que saiu uma feiúra, mas é melhor não julgarmos pela aparência...
“O IRMÃO DE PINOCCHIO - 1929”
-
Magno Silveira
Emília é quem teve a ideia de organizar um "círculo de escavalinho", desde os artistas aos convidados. É nesse livro que Lobato, pela primeira vez, vai inserir alguns dos seus leitores de verdade na narrativa. Destaque para o convidado Alariquinho Silveira, amigo epistolar do escritor. O ilustrador Belmonte, a pedido de Lobato, fez o "retrato" de Alariquinho, impresso erroneamente (segundo o próprio escritor), na página quatro de O circo de escavalinho. Páginas à frente, o menino chega do Rio de Janeiro num pequeno aeroplano "de tocar com o pé". Pedrinho o recebe efusivamente: – "Viva o meu amigo íntimo!". O circo de escavalinho deixa um rastro de mistério sobre o rapto do "famoso" palhaço Sabugueira – sim, trata-se do sisudo Visconde.
“O CIRCO DE ESCAVALINHO - 1929”
-
Magno Silveira
Em A pena de papagaio entra em cena um novo personagem lobatiano. Trata-se de um menino invisível para quem Emília tratou logo de arranjar um nome – Peninha. Isto porque ela amarrou-lhe à cabeça uma pena de papagaio que ficava "flutuando" aonde Peninha fosse, o que facilitava localizá-lo. É Peninha quem apresentou para a turma o famoso pó de pirlimpimpim e, através dele, viajam até ao Mundo das Maravilhas, à Terra dos Animais Falantes. Lá, conhecerão o Burro Falante justo no momento em que o quadrúpede está às voltas com o leão, que quase o devora não fosse a intervenção dos meninos.
“A PENA DE PAPAGAIO - 1930”
-
Magno Silveira
O pó de pirlimpimpim começa com a volta da turma ao Sítio – Pedrinho, Narizinho, Visconde, Emília e Peninha, uma "penca de gente" no lombo do Burro Falante. O animal será um novo morador do Sítio, com a função de conselheiro. Lobato resume, em poucas linhas, o que acontecera em A PENA DE PAPAGAIO (remete ao livro assim, com maiúsculas), e encerra o parágrafo reforçando: "Tudo isso sabe quem leu esse livro, mas a pobre da dona Benta não sabia de nada". O escritor adotou esta técnica de, em um novo livro, remeter a outros títulos seus, o que desperta a curiosidade do novo leitor.
“O PÓ DE PIRLIMPIMPIM - 1930”
-
Magno Silveira
Monteiro Lobato manteve correspondência regular com o amigo Godofredo Rangel. As cartas foram publicadas em 1944 pelo próprio Lobato em A barca de Gleyre, quarenta anos de correspondência literária. Em uma delas, o escritor fala sobre um novo projeto: "Tenho em composição um livro absolutamente original, Reinações de Narizinho – consolidação num volume grande dessas aventuras que tenho publicado por partes, com melhorias, aumentos e unificações num todo harmônico. Trezentas páginas em corpo 10 – livro para ler, não para ver, como esses de papel grosso e mais desenhos do que texto. Estou gostando tanto, que brigarei com quem não gostar. Estupendo, Rangel!"
Conforme Lobato descreveu, Reinações de Narizinho é a reunião de todos os livrinhos apresentados nesta exposição. Assim nasceu o grande clássico da literatura infantil brasileira. Ao lado, capa da primeira edição, desenhada por Jean Villin, um dos maiores ilustradores de Lobato. Na sequencia, capas de outras edições até 1947. O escritor morrerá em 1948.
“REINAÇÕES DE NARIZINHO - 1931”
-
Magno Silveira
Em 1933, Monteiro Lobato dividiu Reinações de Narizinho em dois volumes. Ao segundo volume, deu o título de Novas reinações de Narizinho. Porém, não se tratavam de novas histórias, apenas divisão dos capítulos. Essa divisão teve vida curta, o livro voltaria à unidade nas próximas edições.
“NOVAS REINAÇÕES DE NARIZINHO - 1933”
-
Magno Silveira
O livro tem a mesma estrutura da 1a. edição, inclusive mantendo as ilustrações de Jean Villin, que desenhou uma nova capa.
“REINAÇÕES DE NARIZINHO - 7a. edição, 1937”
-
Magno Silveira
O livro tem a mesma estrutura da 1a. edição, inclusive mantendo as ilustrações de Jean Villin, que desenhou uma nova capa.
“REINAÇÕES DE NARIZINHO - 8a. edição, 1941”
-
Magno Silveira
Em 1943, Reinações apresentou uma total reformulação visual. O responsável pela capa e ilustrações do miolo foi J.U.Campos, artista que era genro de Monteiro Lobato (avô de Cleo, curadora desta exposição). O livro permaneceu assim até 1945 (9a. à 12a. edição).
“REINAÇÕES DE NARIZINHO – 9a. à 12a. ed., 1943 a 1945”
-
Magno Silveira
Em 1947, Monteiro Lobato organiza toda sua obra adulta e infantil. A Editora Brasiliense lança uma extensa coleção de capa dura e dourações. São 13 volumes da obra adulta mais 17 volumes da obra infantil. Caberá a André Le Blanc ilustrar todos os títulos infantis, exceto Os doze trabalhos de Hércules, que manteve as ilustrações que J.U.Campos fizera em 1944.
“REINAÇÕES DE NARIZINHO – Obras Completas, 1947”
-
Magno Silveira
Em 1947, foi lançada também a coleção infantil com maior apelo visual através das capas ilustradas por Augustus. O conteúdo é o mesmo das Obras Completas, preservando as ilustrações de André Le Blanc. Nas décadas seguintes, Reinações terá muitas outras edições exatamente como esta. Em 1970, a Editora Brasiliense lançará uma nova Obras Completas dos títulos infantis, desta vez ilustrados por Manoel Victor Filho.
“REINAÇÕES DE NARIZINHO – 13a. ed., 1947”