A menina do Narizinho Arrebitado

Sobre a Exposição

Moro no Sítio do Picapau Amarelo desde 1977. Engana-se quem pensa que meu convite veio dos livros, convidaram-me, na época, as imagens.

Pelas mãos de Rui de Oliveira e de sua equipe, sob a batuta do querido Geraldo Casé, meu imaginário infantil foi despertado. Um programa infantil que ia ao ar às 17:30 na TV Globo, prendeu-me de tal maneira, que nunca mais pude sair. Sabem o que é viver uma vida com saudades, lembranças afetivas e olfativas de uma cozinha dirigida pela tia Nastácia, a melhor das quituteiras do mundo? E querer ter aulas dos mais diferentes temas, fosse feriado ou férias, contanto que dadas pela melhor de todas as avós? Sim, porque Dona Benta ultrapassou todos os limites geográficos de seu Sítio e acolheu literalmente um país inteiro em seu colo, na cadeira de pés serrados, para seus inesquecíveis saraus. Depois fui informada: TUDO aquilo havia saído de um livro, que depois virou outro até se transformar na coleção completa do Sítio do Picapau Amarelo. Sabem como nasceu essa coleção? Foi com um livro chamado A menina do Narizinho Arrebitado, publicado em 1920. Foi dele a culpa, foi ele a causa, foi ele a salvação de nossas crianças que, na época, contavam com muito pouco para seu deleite. Lobato percebeu isso. E como tudo em que empreendeu, quis saciá-las de fantasia, quis fazê-las serem respeitadas e quis dar a elas vez e voz e, simplesmente, o direito de serem crianças; não mais marionetes de adultos, mas seres pensantes e escritores de suas próprias histórias. Foi então que, livres do pátrio poder tão marcante em suas realidades, deu-lhes asas e ensinou-lhes, nas falas firme e doce de Dona Benta e simples e sábias de Tia Nastácia e de Tio Barnabé –  únicos adultos que os circundavam – , a opção das escolhas e a colheita das consequências. Aquele trio de perfeita didática, cada um a seu modo, educadores no mais pleno sentido do vocábulo, nunca precisou de grito ou de castigo, bastavam-lhe acolhimento, conversa e responsabilidade.

Você deverá estar pensando: – Emília era muito respondona, malcriada e, muitas vezes, cruel e desbocada. Não tinha limites!!!

Sim!!! E, por isso, sempre a adoramos, porque de pano mudo, transformado em ser falante evoluiu para boneca-gente. Esta habilidade de transitar entre a fantasia de ser de pano e a realidade de ser pensante a livravam da métrica cobrada das crianças. Essas sabiam perfeitamente que não poderiam agir como ela, a elas vinham a galope as consequências…já a Emília…Pílulas!!!

Aqui estão reunidos amigos, ilustradores fantásticos, envolvidos e apaixonados por toda a magia de Monteiro Lobato, resgatando, no corredor de suas memórias, os quadros de suas pueris lembranças, sendo festejados ao homenagear o escritor que mudou para toda a eternidade a Literatura Infantil brasileira. Divirtam-se : A porteira está aberta!!!